Arte e Religião

A arte e a religião são dois caminhos pelos quais o homem escapa das circunstâncias para o êxtase. Entre o arrebatamento estético e o arrebatamento religioso há um laço familiar. Arte e religião são meios para estados de espírito semelhantes. E, se estivermos autorizados a por de lado a ciência e a estética e, seguindo as nossas emoções e o seu objeto, considerarmos o que está na mente do artista, podemos dizer, com um certo à vontade, que a arte é uma manifestação do sentido religioso. Se for a expressão de uma emoção, como sou levado a pensar, é a expressão de uma emoção que é a força vital presente em todas as religiões; ou, pelo menos, expressão de uma emoção sentida por aquilo que é a essência de tudo. Podemos dizer que tanto a arte como a religião são manifestações do sentido religioso do homem, se por “sentido religioso do homem” entendermos a sua noção de realidade última. O que não podemos dizer é que a arte é a expressão de qualquer religião particular; fazê-lo seria confundir o espírito religioso com os canais através dos quais flui; seria confundir o vinho com a garrafa. A arte pode ter muito a ver com aquela emoção universal que encontrou uma expressão corrupta e vacilante em mil credos diferentes mas não tem nada a ver com factos históricos ou enfeites metafísicos. Certamente que muitas pinturas descritivas são manifestos e exibições dessa natureza. (…) Mas, se uma pintura é uma obra de arte, tem tanto a ver com dogmas e doutrinas como tem a ver com os interesses e emoções da vida quotidiana.

                      Curiosidade

Antes seria bom definirmos os termos. "Arte" é um manifestação própria do homem, em que ele usa diversos métodos - pintura, escultura, música, literatura... - para exprimir a Beleza em algum nível. "Religião" vem de 'religare', religar; é um conjunto de crenças com comportamentos e regras que visam aproximar o homem de Deus. 
Ao longo da História, todas as religiões usaram a Arte para compor músicas especiais para seus cultos; edificar templos de grande beleza; fazer esculturas representando seus deuses... 
Hoje, ainda encontramos essa relação; porém, talvez por vivermos numa era irreligiosa, ela parece-me mais pragmática, menos espontânea, e a arte apresentada, de modo geral, menos 'artística'. 
Também a Arte ,sendo dom divino, pode prescindir desse 'compromisso' com a religião; a Arte tem valor por si mesma.